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TERCEIRO-MUNDIALIZAÇÃO DE PORTUGAL

http://manuelbaneteleproprio.blogspot.pt/2018/03/terceiro-mundializacao-de-portugal.html

TERCEIRO-MUNDIALIZAÇÃO DE PORTUGAL

A natureza e origem dos postos de trabalho perdidos e criados num país, dá uma medida MAIS exacta do que se está a passar, muito mais do que o simples cômputo dos números totais de emprego e desemprego.

No caso português, vem-se notando uma transformação qualitativa do emprego: o emprego permanente, com garantias de permanência no posto de trabalho, com perspectiva de uma carreira dentro da empresa tornou-se uma quase miragem para a grande maioria dos jovens que alcançam a idade de entrada no mercado de trabalho.

As jovens gerações são empurradas a emigrar (veja-se as declarações cínicas de Passos Coelho, não há muito tempo atrás: já antes de tais declarações, a realidade era mesmo de incentivar a emigração dos jovens!). Temos hoje em dia uma das maiores diásporas científicas no mundo se a medirmos na proporção da pequenez numérica da nossa população autóctone.

A juventude que aqui permanece e procura emprego, apenas consegue trabalho precário, mal remunerado, sem garantias de estabilidade, sem perspectivas de melhoria.
Este modelo de super-exploração da mão-de-obra assalariada convinha às mil maravilhas ao patronato português tradicional, acanhado e mesquinho, modelo esse que serviu para trabalho pouco especializado, que não implicava maior qualificação que os nove anos do ensino obrigatório. Esta situação manteve-se, mas a qualificação dos jovens portugueses foi aumentando rapidamente e agora estão mesmo acima da média dos vários países «desenvolvidos», em termos de diplomas e de qualificações.

O modelo mais comum, pelo menos para os jovens, é o de contrato de trabalho ultra-precário é até ilegal, pois as empresas atribuem perto de 100% dos postos de trabalho ao emprego precário, a contratos a prazo, sendo apenas aceitável pela lei que uma empresa recrute trabalhadores a termo certo, quando a natureza do trabalho é temporária ou quando têm de fazer face a um acréscimo temporário do trabalho. É ilegal, mas o patronato está tranquilo porque a inspecção do trabalho fará «vista grossa» ou só se irá mover se ela própria for sujeita a «pressões superiores». Está a este nível o estado de corrupção das estruturas de fiscalização do trabalho e da economia em geral.

Se tal precarização «cientificamente» delineada, foi aconselhada aos governantes por ilustres doutores da treta (spin doctors) do FMI, Banco Mundial, etc. e seus «epígonos» nacionais, não se tratou – com certeza – de um conselho desinteressado.
É que os grandes grupos económicos, sobretudo no sector terciário, têm interesse muito concreto em recrutar uma mão-de-obra dócil, maravilhada por trabalhar ao nível de um gigante como a «Google» ou um grande banco entre os dez maiores ao nível mundial. Por mais pomposos que sejam os títulos de postos de trabalho para os quais os nossos brilhantes jovens forem recrutados, o facto é que estarão muito em baixo na hierarquia, sem grande hipótese de fazerem carreira. No fundo, são empregados de «call-center», com maior ou menor prestígio associado a seu posto, mas sem real futuro. Tal já ocorre há muitos anos com os call-centers e outros centros deslocalizados em países do Terceiro Mundo (Índia, Paquistão, etc,etc) onde, por uma pequena fracção do ordenado de um empregado da «metrópole», os empregados resolvem quase tudo aos clientes, eles também deslocalizados, que poderão estar telefonando de Nova Iorque, Tóquio, Istambul, Estocolmo ou Lisboa.

Que continua o regabofe da utilização dos nossos jovens mais brilhantes para quadros subalternos das grandes multinacionais, de vários sectores dos serviços, a começar pela grande banca internacional, das redes sociais, da informática, mas também de estruturas mundializadas do turismo, não há a menor dúvida.

O que é confrangedor é que as pessoas dêem como crédito positivo a este governo, o facto de Portugal ter um índice de atractividade dos negócios essencialmente pelos baixos salários, pela mão-de-obra qualificada que se oferece para trabalhar em competição directa à mão-de-obra dos outros países da «periferia», ou seja: somos, na prática, mais um país do Terceiro-Mundo, explorável e dominável a preceito, apenas com a «distinção» de estar situado a Europa, com assento na NATO e na União Europeia. «Estamos na EU» mas sem qualquer preocupação de equidade, justiça, respeito pela lei (laboral), consideração por quem trabalha…
Costumo dizer que, nas últimas décadas, Portugal é o paraíso para o patronato mais perverso, mas predador… Aqui, ele pode desenvolver seus negócios de mui dúbia legalidade, na maior das impunidades.

O excerto abaixo é apenas uma ilustração pontual do que descrevi acima:

Retirado do Diário de Notícias de 12-03-2018:

https://www.dn.pt/dinheiro/interior/grandes-bancos-emagrecem-estrangeiros-contratam-barato-9179040.html

Além da redução da rede de balcões e do número de trabalhadores, os bancos estão agora também a apostar na contratação de serviços de outsourcing. “Em 2017 agravou-se a tendência de os bancos substituírem trabalhadores qualificados, de meia-idade, por trabalho em outsourcing, frágil, desregulamentado, barato e não suscetível de criar relações para o futuro”, denuncia Paulo Marcos.
O cenário da banca só não é mais negro porque muitas instituições estrangeiras estão a recrutar pessoal. BNP Paribas, Natixis, BAI, BAE e Bankinter são alguns exemplos. “Portugal é um país muito atrativo para os bancos estrangeiros instalarem centros de competência”, afirma Paulo Marcos. O Natixis tem um centro de excelência de tecnologias da informação no Porto e vai contratar mais 300 trabalhadores até ao fim de 2019, além dos 300 que já recrutou. O BNP Paribas emprega já 5000 trabalhadores em Portugal. Razão? Boas qualificações e salários baixos.

TIROTEIO NA FLORIDA – MEDITAÇÃO – MAKE IT RAIN

 Por Manuel Banet Baptista, 15 de fevereiro de 2018

TIROTEIO NA FLORIDA – MEDITAÇÃO – MAKE IT RAIN

MEDITAÇÃO
 
Nos EUA – Florida, mais uma vez, um jovem sem apoio, sem família, sem cuidado torna-se – num instante – o vector dum massacre. 
Quantas e quantas vezes vemos/ouvimos histórias aterradoras de tiroteios em escolas ou outros locais públicos nesse país, a tal «Indispensable Nation»? 
– Insistir em não ver o problema que está na raiz dos massacres, ou seja, a profunda disfunção social, que envolve perda de referências dentro da família, ou famílias desestruturadas? Querem ignorar o facto essencial de se tratar de uma sociedade em que se acha «ok» que quem não paga seguro, não tenha direito a uma assistência e apoio na doença?
– Sociedade e governantes sem compaixão verdadeira, sim, são responsáveis pelas guerras distantes e pelos sucessivos episódios de massacres «ao domicílio»… Mas, claro, é muito mais conveniente «culpar» o instrumento do crime … pelo crime!
Todas as facas deveriam ser banidas! Há muitos crimes em que são usadas facas! Se não é assim, porque razão querem banir o porte de arma legal? 
Será para prevenir o crime? Ou o objetivo é …outro!?

ED SHEERAN – MAKE IT RAIN

HUBRIS E ARROGÂNCIA, É O QUE RESTA AO IMPÉRIO

No seguimento das questões levantadas pela iniciativa da China de estabelecer contratos futuros de compra de petróleo em Yuan, o qual é convertível em ouro no Shangai Gold Exchange, há muitos analistas que descrevem isso como um ataque direto ao dólar. O dólar seria destronado do seu papel como moeda de reserva, visto que os países produtores de petróleo (principalmente, os pertencentes à OPEP) deixam de aceitar em exclusivo esta divisa. Antes, qualquer país comprador tinha de possuir dólares para adquirir esta estratégica matéria-prima. É assim que funciona há 43 anos o sistema do petrodólar, resultante das negociações entre Kissinger e a monarquia saudita.
Porém, tal visão é muito estreita, visto que os chineses detêm um excesso de dólares (acima de um trilião) como resultado do seu comércio, altamente deficitário para os EUA.
Provocar a descida acentuada do dólar, sendo esta a mais importante divisa de reserva no banco central e nos bancos comerciais chineses, parece uma forma de auto-sabotagem, mais do que medida estratégica, no contexto do sistema monetário e financeiro mundial.
Além disso, o facto do dólar continuar a ser a moeda de reserva mundial, deve-se a seus detentores, estatais ou privados, assim o quererem. Enquanto assim quiserem, não importa em que divisas seja transaccionado o petróleo (ou outra matéria-prima), o dólar continuará a estar na posição de moeda de reserva mundial.
O perigo maior para o sistema do petrodólar, vem apenas e somente da enorme arrogância e hubris do império americano. Este tem usado e abusado da situação de privilégio de ser detentor da moeda reserva mundial para impor sanções, para dificultar o comércio e sabotar países.
O sistema de Bretton Woods só poderia ser aceitável por todos os actores ao nível mundial, se os EUA fossem capazes de refrear a tentação de usarem a sua posição especialíssima, como arma contra todos os que se rebelam e contestam a sua hegemonia.
Com efeito, nenhum país está a salvo destas medidas de guerra económica, que são o decretar unilateral de sanções, como veio recentemente provar a imposição de sanções (unilaterais) contra a Rússia e forçando os seus aliados (vassalos) da NATO a seguirem o mesmo caminho, mesmo com enorme prejuízo para eles próprios.
Mas a Rússia e a China são potências demasiado grandes para ficarem «debaixo da pata» de Washington. Naturalmente, têm encetado o caminho de se autonomizarem do sistema dólar, assim como do controlo do sistema «Swift», das transferências de divisas e de transações internacionais. Já criaram e funcionam com o seu sistema próprio, equivalente ao sistema Swift.
Paralelamente, vão comprando tanto ouro quanto podem, pois sabem que o atual sistema monetário está no fim do seu «prazo de validade», sobretudo porque as divisas são meramente símbolos manipulados pelos bancos centrais e comerciais, sem nenhuma ligação sólida à economia real, divisas «fiat».
Assim, os EUA têm tido o exorbitante privilégio de obter, a troco de «pedaços de papel» ou de dígitos eletrónicos, importações de bens e serviços sem os quais a economia dos EUA iria certamente para o colapso, visto que já deixou há muito de ter base industrial suficiente para se auto-sustentar e exportar.
Por outras palavras, mais nenhum país no mundo tem a capacidade de estar sucessivas décadas (!) em défice comercial. Os EUA conseguem esse prodígio, porque «exportam» a sua divisa e o mundo inteiro, por enquanto, aceita o dólar como pagamento.
O facto do Yuan estar a dar passos para seu reconhecimento, enquanto moeda de reserva não é de agora, basta pensar-se na longa batalha para que o FMI incluísse a divisa chinesa no cabaz de divisas, o SDR (cabaz composto por determinadas percentagens de dólares, libras, yens, euros e – agora – de yuans).
Os países ou agentes privados ficarão contentes em serem detentores de yuan, pois, agora têm a possibilidade concreta de trocar esses yuan por ouro.
O ouro, vale a pena recordá-lo, embora tenha sido «desmonetizado», continua a ser um metal monetário e ser símbolo de riqueza e de poder, como foi durante milénios.
De outro modo, seria absurdo todos os bancos centrais possuírem importantes quantidades deste metal; se fosse apenas uma matéria-prima entre outras, não haveria razão objetiva para instituições exclusivamente financeiras continuarem a deter e adquirir mais ouro.
Nos finais da IIª Guerra Mundial, o regime de Hitler estava já claramente derrotado: ainda assim, conseguia fazer importações a troco de ouro, visto que já não conseguia que os parceiros comerciais aceitassem o marco alemão.
Quando houver bastante comércio internacional em várias outras divisas e que não os cerca de 70% (actualmente) em dólares, as nações e as empresas já não verão como essencial possuírem esta moeda em reserva.
É nessa altura que o dólar será abandonado como reserva «oficiosa», pois toda a gente sabe que o dólar – desde 1971 – já não está garantido por nada de sólido.
Antes, mantinha a sua convertibilidade em ouro, o que resultava do acordo de Bretton Woods.
O desaparecimento do dólar, enquanto divisa de reserva, não será súbito, nem total: basta ver o exemplo histórico da libra.
Muitas pessoas analistas dos mercados financeiros vêem sinais claros de que o ouro irá – de novo – desempenhar um papel de relevo no sistema monetário internacional. Com efeito, este tem uma vantagem inegável sobre qualquer divisa emitida por um banco central: é que não pode ser fabricado a preceito ou conforme as conveniências de uma super-potência, além de seu valor ser o mesmo em todo o mundo e aceite, independente do local onde foi minerado ou refinado.