Data / Hora
Date(s) - 21/11/2022
19:00 - 20:30
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FÁBRICA DE ALTERNATIVAS
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A dança é uma forma de expressão que surge da necessidade profunda de comunicar com o corpo aquilo que as palavras não conseguem expressar. Neste contexto, o tango atinge uma expressão única na dança a dois: os corpos aproximam-se numa intimidade maior do que qualquer outro tipo de dança, enquanto as pernas se movem com uma velocidade e destreza incomparáveis. A identidade do tango está na combinação de sensualidade, relaxamento e intimidade da parte superior do corpo que contrasta com a dança quase marcial executada pelas pernas, que simboliza o abandono e a resistência do estado de paixão amorosa. A música tem uma expressão sublime e vibrante que aborda diferentes sentimentos, que vão desde o êxtase, a paixão e a conquista até à melancolia e o lamento. O tango é a própria vida em forma de arte, vivida de uma forma complexa e profunda.
As origens do tango argentino estão rodeadas de alguma controvérsia. No entanto, existe algum consenso que permite afirmar que os primeiros passos do tango foram dançados nas ruas, nos bares e nos bordéis de Buenos Aires, nos princípios do século XIX. Um dos significados mais antigos de tango é o de “um lugar onde pessoas de cor negra se encontram para dançar”, o que dá conta das origens étnicas desta dança. Os ritmos trazidos para Buenos Aires, primeiro pelos escravos africanos como o cadombe, e mais tarde pelos negros cubanos, como a habanera, misturaram-se com os sons da polka e da mazurka levados pelos emigrantes europeus, resultando naquela altura na milonga, que é um termo que hoje designa tanto uma espécie de tango como uma dança de salão. O tango nasceu assim nos bordéis ao som de bandas improvisadas com guitarras, violino e flauta. Mais tarde foi introduzido o bandoneón, uma versão maior do acordeão trazida pelos primeiros emigrantes alemães, que se tornou o instrumento principal que caracteriza o som do tango.
No início do século XX, os filhos das famílias abastadas aprenderam a dançar o tango nos bordéis dos barrios de Buenos Aires e introduziram-no no estrangeiro no seio da melhor sociedade europeia e americana, o que causou escândalo em 1913, mas que depressa se espalhou, como uma espécie de epidemia febril por todo o Mundo. Na cidade de Buenos Aires dos anos 20, músicos de formação clássica como Júlio de Caro, que formou um dos primeiros sextetos, levaram o tango para formas de expressão mais subtis e complexas, enquanto que o tango canción começou a desenhar-se como uma forma de subcultura. Carlos Gardel, o maior de todos os cantores de tango, tornou-se o símbolo da própria canção, adorado por todo o povo. Os anos 30 foram palco das grandes bandas que adaptaram a orquestra aos sons do tango, como foi o caso de Juan D’Arienzo e Aníbal Troilo. Nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial o tango sofreu com as vicissitudes das várias crises políticas e com o isolamento do governo peronista, marcado pela prisão de muitos músicos pela sua oposição ao poder. Nos anos 60 e 70, o tango conseguiu sobreviver à ditadura militar, que impedia reuniões de mais de três pessoas, e ao rock n` roll, que se sobrepôs a qualquer outra música popular. Nos anos 80, o tango subiu aos palcos, numa versão teatralizada, pela influência de grandes professores como António Todaro e Pepito Avellaneda. Mais recentemente, surgiu o debate sobre o que é o tango verdadeiro, sobretudo com o surgimento do tango moderno interpretado por Astor Piazolla. O tango é uma forma de arte viva que tem Buenos Aires como o epicentro de um fenómeno que não perdeu o seu carácter popular e o seu objetivo visceral da união mística de dois corpos que dançam num só.
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