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A Comunicação social que temos e não queremos

“Uma dezena de pessoas assaltou uma padaria de portugueses no Estado venezuelano de Vargas, roubando bens no valor de 50 milhões de bolívares (3,7 milhões de euros à taxa oficial Sicad) avançaram nesta sexta-feira à agência Lusa fontes da comunidade portuguesa.”….. “os ladrões decidiram a levar todos os queijos, enchidos e sumos de fruta que havia no estabelecimento”.

Noticia da Lusa noticiada pelo JN e pelo Público

Uma padaria no Estado venezuelano de Vargas tinha queijos, enchidos e sumos de fruta no valor de 3,7 milhões de euros? É notório na nossa comunicação social que existe uma campanha contra o governo da Venezuela, mas… tenham algum decoro! Quem pode acreditar nisto?

Não pretendo aqui defender a governação na Venezuela, como não o pretendo fazer em relação ao Irão ou à Coreia do Norte. Não é desse assunto que aqui se trata mas sim da forma vergonhosa como a nossa comunicação social dá as noticias que nos entram pela casa dentro. Sabemos que a comunicação social, supostamente livre e independente, está dependente do grande capital e nas mãos de grandes grupos económicos. Sabemos que de livre tem muito pouco. Sabemos que é utilizada para servir interesses nem sempre muito claros e para nos “vender” a “verdade” em que desejam que acreditemos. Sabemos como é fácil, através dela, manipular, criar falsas realidades e falsas verdades. Nela se vendem ideias, detergentes, ideologias, governos, etc. e se justificam guerras e massacres em nome da liberdade, da democracia, de Deus ou de outra qualquer razão. Basta lembrar o Iraque. Nela se criam demónios quando necessário e é útil aos interesses de alguns. Basta lembrar Portugal na década de 70, após o 25 de Abril, quando foi a CIA (que até enviou para cá o Frank Carlucci) e os interesses económicos que financiaram e criaram a ideia da “maioria silenciosa”, de um povo em luta contra a opressão e tudo o mais que se sabe hoje como verdades já assumidas. Não duvido que na Venezuela, no Irão e noutros países “do eixo do mal”, a CIA e os interesses económicos estejam a fazer exactamente o mesmo com a conivência dos meios de comunicação que controlam. Basta ver que todos os dias somos bombardeados com a “opressão” a que esses povos estão sujeitos, aos mortos e feridos em manifestações de protesto pela liberdade e nada se fale de Israel ou da Arábia Saudita e ninguém se importa com os massacres no Darfur ou no Ruanda. Tanto que se falava do malvado Kadafi mas ninguém se importa que hoje haja na Líbia mercados abertos para venda de escravos.

Um dos grandes problemas da liberdade e da democracia é exactamente a comunicação social que, como sabemos, não é livre nem democrática. Pertence ao poder económico (e a outros poderes menos claros e mais secretos) que a utilizam para manipular. É em nome delas, liberdade e democracia, que nenhum controlo é exercido sobre o que é noticiado e se alguém critica ou levanta a voz fala-se logo em tentativa de controlar a dita comunicação livre e democrática. Se um jornalista não obedece à voz do dono vai para o olho da rua e se um estado ousa dizer alguma coisa está a tentar controlar a informação (a tal dita livre e democrática).

Não posso acreditar na noticia que inicia este texto, por ser abusiva da inteligência de qualquer um. Não posso confiar nem acreditar nas noticias que nos são impingidas pela comunicação social que mais não fazem que criar a “Matrix” em que vivemos. Vivemos numa época de mentira e manipulação e já nunca sabemos em que podemos acreditar, e quem não sabe no que pode acreditar não vive nem em liberdade, nem em democracia. Vive na mentira.

Artigo escrito por João Pestana